Acampamento Regional de Portalegre e Castelo Branco
Quando a cigarra voltou àquele lugar, já não o encontrou como dantes. No Parque de campismo do Centro de Ciência Viva de Constância a normal cor verde da Natureza reforçara-se com a cor dos lenços das seis dezenas e meia de Exploradores, da região de Portalegre e Castelo Branco, que lhe pareciam mais irrequietos do que a sua eterna amiga formiga.
Mas também havia lenços de outras cores: amarelos, da cor do Sol, azuis da cor do céu e vermelhos da cor do fogo.
Todos eles serravam e atavam paus curtos e compridos, largos e estreitos, verdes e secos, construindo mesas, bancadas e bancos, para mobilar a sua "nova casa", uma área delimitada por cordas de sisal.
Pensou projectar todo o seu potencial vocal numa das suas canções preferidas, só para impressionar aqueles jovens escuteiros e animar, ainda mais, as suas tarefas, mas logo recuou nas suas intenções, quando ouviu o guia da patrulha Veado, do Agrupamento n.º 172, de Abrantes, o escuteiro Cabrita elevar a sua voz e gritar:
“-Quem tem força e razão?”
Ainda pensou responder, mas acabou por ouvir um coro de vozes afinadas fazê-lo:
“-É a nossa Região!”
Percebeu, então, que estava em companhia de boa gente. Eram "Guardiões da Natureza", escuteiros de Flor-de-Lis ao peito, da Região de Portalegre e Castelo Branco, que participavam no XIV Acampamento Regional e que ela desconhecia, pois o último realizara-se em 2001, ainda ela não tinha nascido…
Batendo as asas abeirou-se do placar informativo e leu os nomes, dos Agrupamentos participantes:
“-Abrantes, Chainça, Castelo Branco, Cebolais de Cima, Portalegre, Proença-a-Nova, Rossio ao Sul do Tejo, Santa Margarida, Sertã, Tramagal…” e terminou como que anunciando um grande prémio da lotaria – “Cento e noventa escuteiros” .
Saltando de árvore em árvore observou como todos os outros trabalhavam: alguns dedicavam-se a montar as tendas, outros atavam paus com sisal, outros faziam um aromático refogado...
“-Que pena taparem o tacho! Sempre poderia ajudar a provar!” – pensava ela com os seus anéis, mas logo concluia: “– É melhor não! Não me aconteça a mim o que aconteceu ao João Ratão”.
Alguns escuteiros, os de Rossio ao Sul do Tejo juntavam-se e gritavam batendo o pé no chão:
“O grupo é amigo… o grupo está unido… o grupo está contigo…”
De facto pareciam ter razão, pois todos sorriam uns para os outros. Até lá estava um escuteiro, dono de um extenso e encaracolado bigode, que visitava cada campo transportando na face um constante e simpático sorriso. Ouviu dizer que era o Chefe Nacional Carlos Alberto Pereira e que também acampara por ali. Aliás, no penúltimo dia até o Senhor Bispo de Portalegre e Castelo Branco, D. Antonino Dias visitou o campo e presidiu à eucaristia.
A cigarra continuou por ali a magicar sobre tudo o que via. Parecia-lhe que, embora não sendo formigas, os escuteiros imitavam-nas bem caminhando em fila e em grupo, cada vez que saíam e trilhando caminho como elas.
Nos seus voos em redor desta estranha Irmandade da Flor-de-Lis observou-os transpondo, de barco, o calmo e sereno Rio Tejo; brincando nas águas límpidas e frias do Rio Zêzere; ora nadando e mergulhando, ora andando de canoa; visitando exposições, parques e o Castelo de Almourol; visualizando planetas e constelações através de uns "tubos brancos", um deles o maior do nosso país e que pertencem ao Centro de Ciência Viva… Só de os ver nesta grande azáfama diária, a cigarra sentia a sensação de um leve cansaço, que se apoderava dela.
Numa das noites viu todos os escuteiros reunirem-se em torno de um “lampião” para partilharem as emoções das aventuras vivenciadas durante aquela semana: Imitaram-se uns aos outros, dançaram, riram e cantaram. Sentiu-se, então, entre os seus. Toda a gente sabe que as cigarras só gostam de cantar e as formigas de trabalhar, mas os escuteiros são diferentes, pois sabem trabalhar, cantar e animar.
“-Quem me dera ser escuteira!” – pensou a cigarra enquanto se aninhava num tronco de uma árvore, procurando o calor e o amor da mãe Natureza, sentindo-se tranquila e segura, pois também já aprendera que o escuta “protege os animais e as plantas”!
Dois dias depois, quando a cigarra acordou naquele mesmo lugar, já não o encontrou como dantes. O Acampamento Regional de Portalegre e Castelo Branco tinha terminado. Realizara-se entre os dias 3 e 9 de Agosto de 2009 e, naquele dia, todo o espaço utilizado estava vazio, limpo e arrumado. Até parecia que ninguém lá tinha acampado, o que levou a cigarra pensar que havia sonhado.
Mas, nessa altura, não muito longe daquele aprazível lugar, já em suas casas, os jovens escuteiros contavam e recontavam, entusiasmados, todas as suas aventuras no ACAREG. Quem os ouvia, já perdia a paciência, por escutar tantas repetições.
“-Já me contaste essa…” cortavam secamente, até à exaustão enquanto não proferiam a última exclamação:
“-Mas porque é que não voltas para lá?!”
"-Posso? Quando houver outro irei!
Uma canhota firme e sentida deste vosso amigo "contador de histórias"
Lobo dos Mourões
PS. O Chefe Américo encontrou um insecto numa esteira de um dos campos, que o Chefe Janeiro identificou como sendo a cigarra desta história. No entanto, segundo o Sr. João Pereira, um visitante, o insecto encontrado seria um grilo verde. Ora, a ser verdade havia outro observador em campo e, consequentemente haverá outra história para cricrilar!
3 comentários:
Olá Bravos Exploradores
Só quero dizer que adorei ter feito parte desta história da cigarra e de ter estado estado nestas semana com exploradores tão bravos e animados.
Ah e já agora aproveito para fazer uma restificação em relação ao guia da veado de abrantes. É que ele apesar de ter nome de animal cham-se Cabrita e não barata eheh
Só me resta desejar que continuem sempre com o mesmo entusiasmo que demosntraram nesta semana. E que continuem assim ou ainda com mais entusiasmo no próximo ano que se avizinha eheh.
Canhotas
O caminheiro André
Urso Sensato
Agr.172 Abrantes
Olá André
Que fiasco e ainda por cima só agora li ehehehe...
Eu sabia que era o nome de um animal.
Tarde mas vou rectificar.
Volta sempre
Lobo dos Mourões
O que andam para aqui a dizer de mim sem eu saber
Canhota
Pioneiro Joao Cabrita
Veado Indeciso
Agr.172 Abrantes
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